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IECA PARA CRISTO, CRISTO PARA TODOS!         DESDE 1880.

Texto de Luís Samacumbi

Os congregacionais, também chamados de congregacionalistas ou independentes, fizeram parte da primeira geração de protestantes ingleses. Oriundos da Reforma Anglicana, sua história está relacionada ao puritanismo, movimento crítico e reformador que atuou no seio da Igreja Anglicana com o objetivo de despi-la das características da Igreja Católica Apostólica Romana que exerciam enorme influência mesmo depois da emancipação promovida pelo rei Henrique VIII.

O congregacionalismo foi uma das ramificações do protestantismo inglês que rapidamente se expandiu para outras nações como Holanda e Estados Unidos em face das perseguições religiosas que marcaram a sociedade inglesa nos séculos XVI e XVII, fazendo-se presente também em Angola, através da acção missionária da Igreja Unida de Cristo dos Estados Unidos da América e da Igreja Unida do Canada. Portanto, podemos afirmar que o congregacionalismo Angolano é Americano. A origem desta família protestante fortemente identifica-se com questões sociais que nunca se limitou a pensar e produzir o discurso religioso aos que participam das comunidades eclesiais, mas também a lutar por liberdade individual, igualdade, a pensar a fé, a estimular a experiência com o divino, a assumir a administração das greis, a educar as famílias não só na sã doutrina, mas também nas ciências, fundando escolas, hospitais e centros evangélicos

A importância do congregacionalismo ocorre por suas contribuições ao protestantismo, assim como o legado deixado na fundação dos Estados Unidos da América através dos puritanos, pela prática de um modelo de governo que representou uma experimentação dentro de um arcabouço religioso da teoria social do homem livre, sem mediadores, que assume seu destino e se responsabiliza diante de Deus e dos homens acerca de suas escolhas, sejam estas pessoais, políticas ou vocacionais.

O modelo congregacional de governo representou uma novidade para os padrões eclesiásticos no século XVI, fortemente marcado, na Europa, pela maciça presença da Igreja Católica Apostólica Romana que, como mencionado acima, possuía um modelo governamental verticalizado, centralizado na figura do Papa. Tal modelo hierárquico, uma herança do Império Romano. Mesmo com a separação da Igreja Inglesa da Igreja Católica, o sistema foi mantido, diferenciando apenas que o monarca inglês seria seu governante..

A primeira manifestação histórica (mas não ainda institucional do congregacionalismo) que se tem notícia ocorreu em Londres, no século XVI.  Em 19 de junho 1567, um grupo de cristãos ingleses insatisfeitos com os rumos da Reforma na igreja em seu país, se reuniu no “Salão Plumbers” sendo, contudo, disperso pelas autoridades locais, tendo alguns de seus congregados açoitados, presos ou mortos, além dos que fugiram para a Holanda,4 onde deram também início por lá às tradições eclesiásticas congregacionalistas.

Os congregacionais, também chamados de puritanos na literatura que trata da memória da fundação da nação americana, eram calvinistas e ajudaram a construir a noção de nação eleita por Deus.19 A presença marcante dos puritanos congregacionais cunhou os padrões morais dos americanos nos seus primeiros séculos, pois a influência era exercida não só nos aspectos religiosos, mas também educacionais, políticos, civis e cerimoniais. A reivindicação contemporânea de uma fé privada e sem influência alguma sobre a vida social dos indivíduos obviamente era desconhecida à época. Pensar trabalho, família, política, educação e sociedade sem o referencial religioso era inimaginável e a nova nação do chamado “Novo Mundo” teria, portanto, muito de seu ethos moldado por valores do protestantismo (congregacional, presbiteriano, baptista, metodista, episcopal, Quakers e outros).

A importância dos congregacionais não está vinculada apenas à história da fé cristã protestante. Limitar suas ações somente à História da Igreja seria um equívoco, pois como actores sociais dentro de um contexto histórico específico os congregacionais com a sua experimentação eclesiástica foram representantes, dentro de um arcabouço religioso, de uma verdadeira Teoria Social. O congregacionalismo representou a aplicação e desenvolvimento do homem livre, o emancipado que compreende que a despeito de participar ou colaborar com instituições, pode e deve tomar para si suas responsabilidades e destinos sem esperar que agências mediadoras façam por ele. O congregacionalismo, com sua ênfase no indivíduo, na consciência, na liberdade eclesiástica e na autonomia administrativa revela-se como uma versão religiosa da emancipação do indivíduo e da experimentação prática de determinadas revoluções sociais pelas quais a Europa vinha testemunhando em outros locis.

A IECA - Igreja Evangélica Congregacional em Angola foi fundada por três missionários Americanos, enviados pela Sociedade de Missões das Igrejas Congregacionais dos Estados Unidos, entre eles se achava o Professor Samuel Taylor, que era um Universitário ligado as questões sobre transformação social (descendente de escravos Africanos, provavelmente originários desta Angola, nomeadamente Vie.), aos 11 de Novembro de 1880.

Os missionários entraram em Benguela e desta Província foram se estendendo para o interior do País. Portanto 300 anos mais tarde depois da chegada do Português Diogo Cão em Angola isto é, em 1482.

A Igreja iniciou como um movimento religioso de educação para a transformação social, com o objectivo de trazer os Autóctones à dignidade desejável de filho de Deus. Para implementar este objectivo escolheu as áreas e comunidades rurais, tendo como destino o reinado de Vie (Bié). Porém, a história assegura que passando pelo território do Rei Ekuikui II, Reino do Bailundo, foram detectados como estrangeiros e solicitados a apresentarem-se perante o Rei. Este depois de inquirir a razão da sua presença aí, apercebeu-se que tinham vindo ensinar a respeito da existência e poder de Deus, ao que ele retorquiu: “Se apenas isso, então vale a penas regressarem a vossa terra, porque temos o nosso Deus único que é Suku”. Os homens estavam prontos a desistir quando um deles se lembrou que estavam aí para anunciar o filho de Deus o Salvador do Mundo, Jesus Cristo.

Quando esta mensagem chegou aos ouvidos do Rei, este pediu mais explicações a respeito e depois concluiu: “Se é deste filho de Deus que salva que viestes anunciar, então começai aqui pelo meu povo, antes de chegarem ao Vie.” E assim foi, uma escola foi começada debaixo da árvore, 70 crianças recrutadas, persuadidas com ginguba torrada, açúcar e rebuçado e contra a vontade de muitas famílias que viam nisso o desperdício de mão de obra para as lavras, colunas de carregadores de mercadorias e pastagens. Quando este grupo graduou, uma escola foi erguida e servia também de templo de cultos. Uma Mulemba foi plantada, como pacto de não agressão, entre o Rei e os Missionários depois de resolvidos conflitos que surgiram mais tarde. Os primeiros 14 graduados, dos 70 matriculados, tornaram-se missionários e professores nas suas comunidades, convertendo muitos a esta nova filosofia de vida abundante com Cristo. Foram chamados “omãla vafulu”, filho dos santos, em referência a bondade, mansidão, solidariedade, fé e sapiência manifestada pelos “olonãlas”, Senhores.

A este grupo o povo denominou de Mestres “Alongisi” e eram distribuídos pelas aldeias para iniciarem novas comunidades da nova vida, mais abundante. Foram introduzidas nova técnica agrícola, novos hábitos e costumes, uma dieta melhorada, com soja, óleos vegetais caseiros, consumo de proteína animal doméstico e selvagem, e educação dos filhos a saber ler e escrever, falar bem a língua local e estrangeira, utilizando-as para uma boa comunicação e desenvolvimento do ministério da palavra. A Igreja cresceu, tornou-se uma árvore grande tendo enfrentado vendavais e há quem mesmo diga que a figueira brava já se partiu, mas não foi destruída, não se secou. Continua verde a reabilitar-se isto desde 2002. Em 2004, fomos plantar uma réplica que também cresce maravilhosamente, proclamado uma Angola com futuro promissor. A escola do Bailundo, ergueu muitas outras escolas, nas Missões do Camundongo, Chilesso, Chissamba, na Província do Bié; Elende e Dondi, na Província do Huambo; e Bunjei, na Província da Huila.

Estas Missões regaram as instituições de então com o pessoal qualificado que melhor podia ser encontrado: Professores, escriturários, técnicos agricolas, enfermeiros, conselheiros de desenvolvimento rural através de um programa integrado denominado “Melhoramento do povo”, que se espalhou por toda Angola Central ao longo do Caminho – de – ferro de Benguela.

Dois exemplos podemos partilhar aqui sobre o sucesso deste programa que tinha a Igreja como um movimento de transformação social:

  • A Formação de quadros era feita para a continuidade do programa para a transformação social;
  • Os programas de vacinação nunca vieram do governo Português, mas sim dos Centros Evangélicos e Missões Evangélicas.

Presentemente a IECA cobre as 18 Províncias de Angola, nomeadamente: Cabinda, Lunda Sul, Malanje, Cuanza Norte, Cuanza Sul, Bengo, Luanda, Benguela, Namibe, Cunene, Huila, Huambo, Moxico, Bié, Zaire e Cuando Kubango, onde está prestando vários serviços sociais incluindo os do Sector da Educação.

IECA PARA CRISTO, CRISTO PARA TODOS

Referências bibliográficas

  • CARREIRO, Vanderli Lima. Lições de História do Congregacionalismo. Curso de História Denominacional. [s.d.]. 77 f. Seminário Teológico Congregacional do Rio de Janeiro. p. 27.
  • FEBVRE, Lucien. GOMES, Joelson. Livres para Adorar. PDF. No prelo.
  • GIODARNI, Mario Curtis. História dos Séculos XVI e XVII na Europa. Petrópolis: Editora Vozes, 2003.
  • HILL, Christopher. O Século das Revoluções 1603 – 1714. São Paulo: UNESP, 2012.
  • KARNAL, Leandro. [et al]. História dos Estados Unidos. São Paulo: Editora Contexto, 2016.
  • LLOYD – JONES, David Martyn. Os Puritanos: Suas Origens e Seus Sucessores. São Paulo: Editora PES, 1993.
  • MCGRATH, Alister. Origens Intelectuais da Reforma. São Paulo: Cultura Cristã, 2007.
  • Os Americanos. São Paulo: Editora Contexto, 2014.
  • História da IECA – Plano Estratégico da Igreja Evangélica Congregacional em Angola 2013 - 2017
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